quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Soltos, como pó!

Como operário eu era gente, era alguém. Não vivia ao vento. Já não era só eu, estava feliz. Tinha raízes, não era pó. Estava na fábrica, de macacão, crachá e com esperanças no peito. Mas a crise... a reestruturação... os setores que fecharam, as funções que desaparecem, os colegas demitidos. Outras terras, nossa sina, novas lágrimas, outras esquinas. Tempos de desagregação e desatinos. No recomeçar da empresa, nossos sonhos incompreendidos. E dia após dia, a produção foi comendo nossas vidas. As máquinas, moendo nossos sonhos. A competição, transformando-nos em inimigos. No silencio competitivo, somos humilhados, desqualificados. No recomeçar da vida, a rádio peão anuncia que um adoeceu, o outro morreu e mais um, desapareceu. Meu peito, de tanto sofrimento é um laço, um nó. Estamos perdidos, lançados ao vento, num redemoinho de areia. Somos muitos, cada vez mais, sem raízes. Soltos. Como pó.

(Julio Tavares)

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Edna!
Que Júlio Tavares é esse, de onde você retirou a citação? gostei e copiei (coleciono citações), mas tenho dúvidas sobre o autor, pois há várias personalidades com esse nome...
Bjs!

Edna Melo disse...

Gilberto,

a citação é de um site sobre assédio moral. Se você quiser conhecer: www.assediomoral.org.

Que bom que você gostou!

Também pretendo falar sobre isso neste espaço, meio que levantar uma bandeira mesmo contra tudo o que fere a dignidade humana. O assédio moral é algo que vem sendo praticado cada vez mais em todas as instituições, sejam públicas ou privadas, e cada um de nós já se defrontou com pelo menos uma situação dessas.

Um beijo!