Como operário eu era gente, era alguém. Não vivia ao vento. Já não era só eu, estava feliz. Tinha raízes, não era pó. Estava na fábrica, de macacão, crachá e com esperanças no peito. Mas a crise... a reestruturação... os setores que fecharam, as funções que desaparecem, os colegas demitidos. Outras terras, nossa sina, novas lágrimas, outras esquinas. Tempos de desagregação e desatinos. No recomeçar da empresa, nossos sonhos incompreendidos. E dia após dia, a produção foi comendo nossas vidas. As máquinas, moendo nossos sonhos. A competição, transformando-nos em inimigos. No silencio competitivo, somos humilhados, desqualificados. No recomeçar da vida, a rádio peão anuncia que um adoeceu, o outro morreu e mais um, desapareceu. Meu peito, de tanto sofrimento é um laço, um nó. Estamos perdidos, lançados ao vento, num redemoinho de areia. Somos muitos, cada vez mais, sem raízes. Soltos. Como pó.
(Julio Tavares)
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2 comentários:
Oi, Edna!
Que Júlio Tavares é esse, de onde você retirou a citação? gostei e copiei (coleciono citações), mas tenho dúvidas sobre o autor, pois há várias personalidades com esse nome...
Bjs!
Gilberto,
a citação é de um site sobre assédio moral. Se você quiser conhecer: www.assediomoral.org.
Que bom que você gostou!
Também pretendo falar sobre isso neste espaço, meio que levantar uma bandeira mesmo contra tudo o que fere a dignidade humana. O assédio moral é algo que vem sendo praticado cada vez mais em todas as instituições, sejam públicas ou privadas, e cada um de nós já se defrontou com pelo menos uma situação dessas.
Um beijo!
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