domingo, 11 de maio de 2008

Noites de terror...

Quando eu era bem pequena, via monstros de baixo da minha cama. Não os via propriamente, mas ouvia, sentia, sabia que estavam lá. Hoje os monstros são outros. Na escuridão da noite, eles vêm me assombrar, e eu preciso enfrentá-los. Tenho de encarar meus monstros.
E eles têm nomes. A solidão, o medo do desamparo, o vazio da existência, as perdas. Nomes de monstros. E não têm mais hora para chegar, chegam a qualquer hora e em qualquer lugar. Não pedem licença, não querem ir embora. Apenas assombram e assombram...
Às vezes a vida parece mistério, um filme de suspense, num parque de diversões... As nuvens sombrias transcendem o dia e parecem não querer permitir que a gente vislumbre o sol. As dores, aliadas eternas dos monstros noturnos, insistem em tingir nossas paredes com tons indefinivelmente escuros, sombrios, noite e dia misturados às pessoas taciturnas e vagueantes que trafegam sem rumo e sem emoção...
Noite. Dia. Dia e noite. A vida não é tão em preto e branco. Existem os tons de cinza. E existem também outras cores.
Flor. Sol. A vida também pode ser Primavera.

sábado, 10 de maio de 2008

Esquizofrenia

Depois do Cogito cartesiano, muitas águas já passaram por baixo dessa ponte... Após pensadores modernos e contemporâneos colocarem a consciência em função de algo sempre real, sempre existente no mundo real e, portanto, externo, vejo-me na posição de parafrasear Lacan e dizer: penso onde não existo! O que me comprova que de fato existo? Ou o que me dá concretude no sentido de identificar como real o que vejo? Que realidade posso afirmar no mundo ao meu redor? Posso afirmar que as relações que vivo são reais? Dizer que sinto os sentimentos que penso sentir? As pessoas existem mesmo ou são fruto da minha imaginação? Quê, de fato, existe?
Tudo me leva a crer que é exatamente a segunda alternativa. Tudo que construo no meu mundo imaginário só existe na minha imaginação e não existe nada ao meu redor. Então, posso inferir que eu também não passo de uma construção imaginária, um espectro do que talvez deveria ser vida, corpo, alma e pensamento. Uma faísca. Uma luz na escuridão, do nada. Meu corpo é um ser etéreo e sem vida, sem existência em si, não tenho substância. E, se nada existe, como posso inferir alguma coisa?
Sou uma esquizofrênica incurável. Mas apesar de gravitar nesse mundo pertencente à Terra do Nunca – não do País das Maravilhas – posso dizer que desfruto de uma indelével e irredutível liberdade! Uma liberdade tão infinita que nada nem ninguém pode me tolher... Pelo motivo mais óbvio: não há nada nem ninguém. Meu ser incorpóreo e irreal pode então desfrutar da mais ampla liberdade de ação que poderia ser imaginada ou desejada por qualquer um que viesse a existir nesse mundo que não existe. Não há também como qualquer pessoa ou coisa me impetrar mal algum. Em primeiro lugar, porque não existem coisas ou pessoas; em segundo, porque também não existe mal nem bem.
Mas o fato é que esse pensamento quântico que me constitui precisa transitar nesse universo imaginário, de alguma forma, para alguma coisa. Não sei que caminho seguir, ou a que propósito me destino. Nada sei da possibilidade de me construir ou de constituir algo nesse universo sem fim, mas sem início. Sem consistência. Existir onde não sou, ser onde nada existe. Eis a questão.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

..."Está, dessa maneira, garantido o estatuto ético: afirmar a vida, afirmar uma vida não depende do conhecimento, a rigor, das coisas do mundo. Afirmar uma vida é inventar uma nova subjetividade que abandone dualismos como sujeito/objeto e leve em conta o jogo de forças do acaso, mesmo que esse jogo seja doloroso: é preciso rir da dor! Entendendo a filosofia como uma teoria das multiplicidades e fugindo de falsos dualismos, é possível escapar dos valores metafísicos universais da representação a subordinar o tempo ao movimento, a encurralar a diferença em nome da identidade. A filosofia como uma teoria das multiplicidades enseja um duplo postulado. Um postulado ético: uma vida e... (nada mais). E um postulado ontológico: uma vida é... (pura intensidade). Uma vida em seus múltiplos acontecimentos singulares e uma vida a afirmar irrestritamente todo o acaso.
...Uma vida é toda ela feita de virtualidades, ela é um feixe de virtualidades, de acontecimentos e de singularidades: o virtual é atual, mas também real. Os acontecimentos de uma vida se singularizam em estado de coisas, mas uma vida não é um estado de coisas, pois ela é atualizada, expandida. O próprio plano de imanência, ao produzir um corte no caos, instaura a virtualidade. O plano de imanência é também virtual..." ...

(JORGE VASCONCELLOS - Professor de Filosofia, acerca da filosofia deleuziana - Revista Mente, Cérebro & Folosofia.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A verdade da psicanálise

A psicanálise, como teoria psicanalítica, é muito interessante. Enquanto prática clínica, no entanto, é um estelionato, uma fraude, um jogo sujo, porque cruel, de manipulação e mentiras.

Eu não deveria ter caído na manipulação. Eu deveria ter mantido o controle. Mas a própria técnica, em si, te enreda, faz você se envolver. O fato de serem duas (ou mais) sessões semanais, a postura, sempre dúbia, do profissional, te levam a se entregar.

A verdade é que, quando você entra num consultório de psicoterapia, é porque você não tá bem. Daí, você precisa confiar naquele profissional. Pelo menos teoricamente, ele tem condições – formação, conhecimento - de te ajudar. Então ele vai te falando coisas, ao mesmo tempo em que mantém a distância “ética”, e te deixa confusa. Você sabe que aquela relação é profissional, não pessoal. Mas o que impede de existir afeto genuíno entre as partes? E você começa a se ver envolvida numa relação aparentemente afetiva.

Aí, de repente, como num baile da Cinderela, chega a meia-noite e o encanto se acaba. O príncipe vira abóbora, desaparece. A magia sumiu. Ele te deixou. Não, não é sua fantasia, você não imaginou tudo! A técnica é assim. Ele te faz acreditar que está ali, que você pode contar, que ele se importa, e de repente, puf!... Acabou! É o jogo de cena, é a mudança de posição prevista quando você entra na transferência que ele teceu pra você. Como um aracnídeo, então, ele fica de fora te observando se debater ali na teia, talvez pra cansar, ou porque a adrenalina faça a carne ficar mais macia, sei lá... Não. Na verdade, ele espera que você saia da teia sozinha. Ele teceu, e você tem que aprender a sair, pra como uma libélula sofrer a metamorfose. Teoricamente é fantástico. Não tem como não se convencer. Mas acho que a técnica não pode ser seguida à risca, como uma receita de bolo, pura e simplesmente. As pessoas não são iguais. E também acho que aquele ser humano deveria realmente se importar com você. Só assim ele teria condições de adaptar a famosa técnica ao seu caso particular. Ele precisava te ver, não à técnica. Ele precisava se interessar por você, pelos seus sentimentos, e pelo que ele despertou tão ardilosamente, fazendo você crer no que não existia, num manejo sórdido, sádico.