terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Uma indomável história de amor

Amor já é uma palavra batida, dessas que se fala por falar, com variadas conotações e diversos significados, ou até mesmo sem significado algum. Amar, amar genuinamente, é algo que está em falta. O século XX foi denominado, entre as muitas nomeações, como o século da solidão, que se alastra ainda mais na alvorada do século XXI. Numa era de relações mediadas pela tecnologia da informática, em que nossa sociedade carece de interações face a face, os sentimentos se perdem em meio a ausências quase intransponíveis, a compromissos relativizados, à diluição dos ideais. Amor enquanto cimento entre as pessoas, promovendo ligações perenes e conferindo sentido à existência é matéria cada vez mais rara. Enquanto argumento para criações cinematográficas, já é consenso geral que o amor romântico, a fórmula da ilusão ocidental, sempre e de várias formas consiste num gancho eficaz e é segredo de sucesso comercial infalível.
O filme Os Indomáveis segue o modelo dos westens americanos, ressuscitando um gênero que já arrebatou platéias. Nesse tipo de produção, não se espera ver um casal apaixonado como foco central da história. De fato, o que se vê a olho nu é uma luta por terras, ou por outros tesouros materiais, entre defensores da lei e bandidos valentões. Não é diferente no filme de James Mangold. Um olhar mais acurado, no entanto, permite observar enredos mais sutis e histórias bem mais ricas, fazendo pensar sobre uma ligação muito mais profunda e significativa que permeia a aparente barganha por um pedaço de terra que envolve os personagens centrais.
Dan Evans (Christian Bale) é um rancheiro falido que decide escoltar o famoso bandido Ben Wade (Russell Crowe) em troca de 200 dólares para pagar suas dívidas e evitar perder suas terras para o banqueiro da cidade. Ferrenho defensor da lei, sonha em se tornar herói aos olhos do filho. Ben é um bandido voraz e esperto, praticamente impossível de ser capturado. Essa saga une os dois numa trajetória que surpreende pelo fato de que ambos encontram um no outro um irmão de que sentem falta e que nunca tiveram.
Solitário na senda para sustentar sua família, Dan conquista a afeição de Ben por causa de sua sinceridade e de sua simplicidade. Ben, revoltado com a hipocrisia dos que defendem o certo contra o errado, com regras duras e inflexíveis, com comportamentos mais atrozes que os de um bandido declarado, tem um histórico de abandono quando criança e se fez sozinho o maior bandido da região, líder de um bando leal e terrível. Nunca teve família. Encontra em Dan uma cumplicidade fraternal que os leva a um final comovente. Vale a pena ver e refletir sobre o que nos falta na atualidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não leve a mal, só dando um toque: é bacharel.
Parabéns pela iniciativa do blog.

Edna Melo disse...

Valeu o toque...